Antes
realizada apenas como método de esterilização, hoje a castração pré-puberdade
está entrando para o rol de cirurgias preventivas, fazendo com se
torne incerta sua
prática, com tantos benefícios e tantas desvantagens.
Alguns
dados sugerem que existem no Brasil cerca de sete milhões de gatos e vinte e
cinco milhões de cães domiciliados, inseridos em todas as classes sociais. Um
equilíbrio biológico é então necessário, a fim de que a interação entre seres
humanos e animais não seja afetada, considerando que um número excessivo desses
animais gera gatos e cães errantes e superpopulações, podendo ocasionar vários
problemas para a saúde pública. Métodos cirúrgicos que induzem à esterilidade
permanente, seja por alterações anatômicas do aparelho reprodutor, por meio de
remoção cirúrgica parcial (ovariectomia e deferentectomia) ou total
(ováriossalpingohisterectomia e orquiectomia), ajudam no controle da reprodução
de cães e gatos.
A castração precoce, a qual inicialmente buscava o
controle populacional, ganhou novas conotações e, muitas vezes, a esterilidade
não é o motivo principal para realizá-la. É um procedimento que vem sendo
realizado em grande parte do mundo, em especial nos Estados Unidos, o qual faz
com que cada vez mais não só os médicos veterinários, mas os próprios proprietários
passem a questionar a idade ideal para um melhor desempenho desse método e se
deve ser realizada com outros intuitos. Sabe-se que pacientes jovens se
recuperam mais rapidamente, têm menor incidência de complicações durante ou posteriormente à cirurgia, além da incisão ser
menor e o tempo de duração da cirurgia reduzido.
Além disso, a castração previne as chances de
piometra, patologia que acomete o útero de gatas e cadelas, de meia idade a
idosas e não castradas. Sua caracterização deve-se a uma infeccção bacteriana,
com presença de exsudato muco-purulento no lúmen uterino, em decorrência de uma
estimulação prolongada de hormônios, o que gera uma hiperplasia endometrial
cística. Na fase do diestro, o aumento do nível de progesterona aumenta atividade
das glândulas secretoras e diminui a defesa imunológica, bem como a atividade
miometrial, favorecendo as infecções.
É provado que a incidência do tumor de mama, o segundo
mais freqüente em cadelas e o terceiro que mais acomete gatas, cai para 0,5%
quando a fêmea da espécie canina é castrada antes do primeiro cio, todavia, se
é castrada após o segundo cio, essa intervenção cirúrgica não possuem efeito. Infelizmente,
nem tudo são “flores”, a castração precoce pode gerar aumento no risco
de problemas ao animal, dentre eles a incontinência urinária, caracterizado
como uma condição debilitante que acomete principalmente fêmeas castradas,
sendo que a sua incidência é estrógeno-dependente. Essa patologia é causada por
decréscimo na
pressão de fechamento uretral, aumento do depósito de colágeno na musculatura
lisa da bexiga e alterações hormonais.
Outra desvantagem da castração precoce é o ganho de
peso, mesmo que o consumo de alimento não varie. Não está claramente definida a
relação entre a castração e a obesidade nos animais domésticos, sabe-se que
cadelas castradas têm um aumento de apetite e ingestão de alimentos e, o
estrogênio pode ter a ação de um fator de saciedade. Felizmente, essa situação
pode ser controlada com prática de exercícios físicos e uma dieta adequada.
A precocidade de uma castração também provoca o
retardo do crescimento do cão e do gato. Isso ocorre porque a maturidade do
esqueleto está relacionada à puberdade, a qual sofre ação direta dos hormônios
sexuais, os quais, por sua vez, influenciam o metabolismo dos ossos. A prática
também atrasa o fechamento das epífises ósseas, significando que o animal
permanece em crescimento mais tempo e tem estatura um pouco maior do que teria
caso fosse “inteiro”.
E as desvantagens não param por aí, principalmente nas
cadelas, as dermatites peri-vulvares e as vaginites são associadas à castração,
principalmente quando esta ocorre antes da puberdade. Além disso, alguns
estudos demonstram que a castração precoce em gatos e cães pode desenvolver tumores
nas glândulas adrenais.
Sabe-se que mais estudos devem ser feitos. O que se
recomenda é que a castração para animais de pequeno porte ocorra quando ele
está com sete semanas de vida. O fator financeiro também é importante e conta
muito quando o médico veterinário opta pela castração precoce, a qual gera
redução de gastos e duração da cirurgia. Os riscos genéticos também podem
influenciar na escolha, por exemplo, se houver casos de câncer de mama na
família. Desta forma, deve-se colocar em uma balança, as vantagens e
desvantagens da castração precoce, sendo que a escolha deve ser aquela que
busque o melhor para o paciente.
Larissa Ayane (Gyrina)