domingo, 10 de fevereiro de 2013

Entrevista com Prof. Dr. José Luiz Riani Costa - (SUS) - Parte 6


03– A Lei Orgânica da Saúde, criada em 1990, com base no artigo 196 da Constituição Federal de 1988, estabelece que a saúde é um direito para todos, cabendo ao Sistema Único de Saúde (SUS) executá-la de forma igualitária, universal e integral. Entretanto, esses princípios não são realizados plenamente na prática. Discuta as principais diferenças entre os direitos garantidos e os cumpridos pelo SUS.

Resposta: Se fizermos uma analogia entre o SUS e a vida de uma pessoa, poderíamos dizer que o SUS tem uma boa carga genética, mas a inanição na primeira infância (representada pelo subfinanciamento crônico), as doenças do crescimento (em que a expansão de algumas estruturas não é acompanhada pelas demais) e os efeitos adversos de alguns tratamentos prescritos (como terceirização, privatização e precarização do trabalho), ele ainda não desenvolveu toda sua potencialidade. Mas ainda há remédio! Assim, infelizmente, alguns dos direitos não são realizados plenamente na prática. Em relação à universalidade, pode-se dizer que nas ações de proteção à saúde, como na vigilância sanitária, na vigilância epidemiológica e nas campanhas de vacinação, ela acontece. Mesmo em algumas áreas da assistência médica, como na Aids, nos transplantes, no tratamento do câncer e na hemodiálise, a cobertura é praticamente universal. Também é verdade que há uma parcela da população que não se utiliza regularmente da assistência ambulatorial, laboratorial e hospitalar do SUS, por ter plano de saúde. Mas muitos acabam recorrendo ao SUS quando as carências ou limitações dos planos excluem o acesso a diversos procedimentos. Mesmo nestes casos, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), ligada ao Ministério da Saúde, tem um papel importante na defesa dos direitos dos segurados. Com relação ao acesso igualitário, como vivemos em uma sociedade profundamente desigual, deve prevalecer o princípio da equidade, que consiste em tratar diferentemente os desiguais, para que tenham acesso igual ao direito. Dito de outra forma: dar mais aos que mais precisam.


04–Por ser um sistema novo e levando em consideração a dificuldade de gestão, o SUS tem encontrado muitos empecilhos para atingir seus objetivos.       Partindo dessa afirmação, cite algumas das falhas na gestão do SUS e apresente possíveis soluções.

Resposta: Com a ampliação da cobertura, alguns gargalos ficaram evidentes, como os exames de maior complexidade, o atendimento especializado e a atenção hospitalar. Um dos desafios que precisa ser enfrentado é a organização da atenção à saúde, que precisa superar o modelo curativo, individual e centrado na figura do médico. O sistema foi historicamente subfinanciado, mas além dos recursos serem insuficientes, existem problemas na eficiência da gestão. Modestamente, pude contribuir neste esforço de qualificação da gestão do SUS, ao participar, entre 2005 e 2008, da implantação do Departamento de Monitoramento e Avaliação da Gestão do SUS e da direção do Departamento Nacional de Auditoria do SUS, junto à Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, no Ministério da Saúde.


05 – Segundo o Censo 2010, realizado pelo IBGE, a população idosa (acima de 60 anos) representa cerca de 12% de toda população brasileira. Dado que esse percentual tende a crescer alterando o perfil demográfico, quais são os atuais desafios do SUS para garantir os recursos necessários às ações de saúde?

Resposta: O rápido processo de envelhecimento da população representa um grande desafio, tanto para o Estado como para a sociedade, exigindo a formulação de políticas públicas que atendam suas necessidades, nas três esferas de governo, devendo contar com a participação da própria população idosa. Para o SUS, o desafio é ainda maior, pois, paralelamente à transição demográfica, vem ocorrendo a transição epidemiológica, com predomínio de doenças crônico-degenerativas e de incapacidades funcionais, resultando em maior e mais prolongado uso de serviços de saúde. Neste cenário, devem ganhar destaque as ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças e de outros agravos, realizadas por equipes multiprofissionais, que incluam pessoas com formação das áreas de geriatria e gerontologia. As equipes de saúde da família têm um papel muito importante a desempenhar, inclusive descobrindo e trazendo para a cena os idosos “invisíveis”, que existem em diversos lugares. Para isso, foi revisada a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, com posterior elaboração do Caderno de Atenção Básica sobre “Saúde da Pessoa Idosa e Envelhecimento” e o volume 12 da Série Pactos pela Saúde sobre “Atenção à Saúde da Pessoa Idosa e Envelhecimento”, implantada a “Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa” e implementado um programa de capacitação dos profissionais da atenção básica, especialmente para as áreas mais críticas. Mas esta ampliação do acesso precisa contar com Centros de Referência em Saúde do Idoso, que ainda são insuficientes.
Matéria cedida pelo PET Farmácia, UNESP de Araraquara, escrita pelos acadêmicos Flávia Benini da Rocha Silva, Marina Soares Straci e Renan Willian Alves

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