segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Era uma vez no Maranhão...


   Por dez dias vivenciei, sob a minha ótica e o meu conforto, uma realidade que não é a minha, mas que me afetou. Vi muitos dormindo nas calçadas, mal abrigados e descobertos, largados e esquecidos. Quando amanhecia, os que pareciam moribundos ganhavam vida e, de alguma forma, misturavam-se e camuflavam-se com os demais, que desde as sete da manhã estavam a postos lutando pelo seu pão. Os garis limpavam a sujeira que podiam das ruas nessas noites. Os mais sujos eram os policiais, que salvaguardavam o centro histórico à sua maneira... honestamente, não vi utilidade em tê-los ou não ali.
   Mal amanhecia e o sol no céu queimava a pele dos desprotegidos, despreparados e sem mãe: os turistas - aqueles que passam repelentes, protetor solar fator 60 e tentam ilusoriamente estar preparados para todas as adversidades.     
Os nativos, de pele morena, alguns vestindo carrancas no lugar habitual dos seus rostos, armados e xenofóbicos... Outros, simpaticíssimos, gentis e de sorriso largo, prontos para ajudar ou dar um bom dia efusivo, contrastando e dando vida aos dias quentes e aos ônibus e ruas lotadas.
   Em Raposa, um povoado vizinho de mulheres rendeiras e homens trabalhadores do mangue, estão abertos à visitação e encantam com sua simplicidade e com suas palafitas sofisticadas que comercializam Coca-Cola, ainda que mal tenham água encanada.
O sossego das pessoas se assemelha ao de suas tão famosas dunas e lençóis. O reggae que ecoa nas esquinas, misturado ao som de um forró mais que animado, é o que movimenta o povo nas baladas. Tenho pra mim que se não fosse a sua música, eles não seriam os mesmos.
   Foi por essas e outras que eu percebi, ao contrário do que a mídia vende, que não são somente os sabores como o do cupuaçu, cajá, bacuri e do famoso Guaraná Jesus, a disposição dos azulejos e a arquitetura das velhas casas quem dão o gingado e a malemolência típica de São Luis do Maranhão. Adiciona-se também os contrastes e as percepções de fatos reais, vividos por mim e por outros que desconheço, nesta cidade muito longe, muito longe daqui, que tem problemas que parecem os problemas daqui. E para os que desconhecem qualquer fato a respeito, estar no Maranhão é arte, suar faz parte.


Natália Benincasa (Pi-xanga)





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