Se você diz que seu cachorro “pensa” que é gente, engana-se. Nós é que
pensamos, queremos que ele nos imite e, mesmo que inconscientemente, assim o
fazemos. Quer alguns exemplos? Hoje é muito comum encontrar grifes de roupas e
acessórios, salões de beleza, velórios, creches e festas de aniversário, todos
preparados especificamente ao querido cãozinho. E a mais nova moda é
transformá-los em seres vegetarianos ou, mais radicalmente, em veganos, ou
seja, que não ingerem nenhum tipo de proteína de origem animal. Isso mesmo, os
humanos querem os seus cães tão parecidos com eles, que até as suas filosofias
de vida estão sendo adotadas passivamente pelo animal.
A relação entre cães e humanos vem de longa data. Historiadores
acreditam que esta relação tenha iniciado há pelo menos dez mil anos, e a
espécie canina foi a primeira a ser domesticada pelo homem. O cão não teria
sobrevivido até aqui sem a ajuda do seu padrinho humano, já que essa relação
pode ser classificada, teoricamente, para alguns estudiosos, como um tipo de
parasitismo, em que uma espécie provê a sobrevivência de outra sem receber em
troca nada que aumente suas chances de sobrevivência ou de reprodução. E esta
proveniência pode custar bem caro (literalmente) para uma das partes, pois o
parasita peludo pode chegar a custar R$70 mil ao longo de dez anos. Então, por
que não gastar todo esse dinheiro com seres da mesma espécie?
Os cachorros sempre foram bem aceitos na sociedade, pois já assumiram
papéis importantes na evolução humana. Quando o homem achou por bem caçar suas
presas, os cães as farejavam; quando preferiu pastorear ovelhas, os cães as
tocavam; quando teve de sobreviver na neve, os cães puxavam os trenós. Mas, o
mais importante papel é o que ele nunca deixou de fazer: a relação afetiva, o
companheirismo e a lealdade, algumas características inerentes à espécie, o
que, muitas vezes, é difícil encontrar tão verdadeiramente em outros humanos.
Deve ser por isso que, mesmo sendo uma relação tão cara, o homem ainda está
disposto a pagar por ela. E deve ser o mesmo motivo pelo qual os queremos cada
vez mais perto, cada vez mais parecidos conosco.
O fato é: cachorro é cachorro e gente é gente, e isto não é tão óbvio
quanto parece. Essa relação deve ser mantida em equilíbrio, porque quando uma
das partes tenta ser parecida com a outra, ambas vão sofrer as consequências.
Quem nunca ouviu falar da tal ansiedade de separação? É muito comum e acontece
porque o cão se torna excessivamente dependente do seu dono. E os dois sofrem
por isso. O cão, porque se sente tão desprotegido sem seu dono, que prefere não
se alimentar, choramingar, lamber compulsivamente a sua pata ou achar uma
distração bem divertida, como comer todo o sofá da sala. O proprietário, porque
não gosta de sair de casa e deixar seu animal triste ou porque sabe que quando
voltar vai encontrar a sua casa destruída. E porque deixamos isso acontecer?
Porque assim o criamos desde filhote, como filhos.
Cães não se importam se sua coleira tem pedras de diamante ou se é
apenas um pedaço de tecido velho amarrado em seu pescoço. Cães não gostam de
usar sapatos. Cães não ficarão chateados caso não ganhem uma festa de
aniversário. Quem se importa com isso somos nós. O que eles realmente precisam
é de um pouco de atenção e carinho, alimento de qualidade e cuidados com a sua
saúde, nada em excesso. Quando esta relação é equilibrada, ela deixa de ser
parasitária e se torna simbiótica, e é assim que naturalmente deve ser.
Não, seu cãozinho não gosta de roupas natalinas
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